Paulo Navarro | Entrevista com Sônia Andrade
Entrevista com a cantora Sônia Andrade. Foto: Gabrielle Martins
Ainda Estou Aqui
“Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim, ó, meu bem, não faz assim comigo, não, você tem, você tem que me dar seu coração!”. Lembram e já cantaram esses versos em outros carnavais? “Pra você gostar de mim (Taí)”, de Joubert de Carvalho, até hoje, é um grande sucesso de Carmen Miranda (Marco de Canaveses, Portugal, 1909 – Beverly Hills, EUA 1955), que continua sinônimo de Brasil, mesmo tendo sido acusada de “ter voltado americanizada”.
A ótima notícia é que Carmen ressuscitou, no espetáculo, “Taí, Carmen Miranda por Sônia Andrade”, nossa entrevistada a seguir. A música popular brasileira deve muito à Carmen Miranda, uma das maiores artistas do país, cuja carreira internacional levou a cultura brasileira ao mundo. Com a turnê “Taí! Carmen Miranda", a cantora Sônia Andrade traz ao público uma homenagem vibrante a esse ícone. O objetivo é preservar, difundir e celebrar a música e a cultura de Carmen para as novas gerações. “Em uma fusão de entretenimento, educação e preservação cultural, a importância de Carmen Miranda na história da música brasileira. O show também proporciona um enriquecimento artístico e cultural, além de um orgulho renovado pela nossa brasilidade.
A energia e a alegria que Carmen representava são o que procuro reviver e compartilhar com o público”, justifica Sônia Andrade, que continua e conta muito mais.
Sônia, 70 anos depois da morte de Carmen Miranda, quem lembra dela?
Carmen Miranda ainda é lembrada por muitos, mas de maneiras diferentes. Para o grande público, sua imagem continua forte – o turbante, as frutas, a alegria contagiante. Mas, infelizmente, muitas pessoas conhecem apenas essa caricatura e não a artista genial que ela foi. Entre músicos, pesquisadores e apaixonados pela cultura brasileira, ela é reconhecida como uma das maiores intérpretes que já tivemos, uma mulher revolucionária que abriu portas para a música brasileira no exterior. O nosso projeto, “Taí, Carmen Miranda por Sônia Andrade”, busca exatamente isso: não apenas lembrar Carmen, mas resgatar e mostrar sua verdadeira grandeza para as novas gerações.
A bela biografia dela, escrita por Ruy Castro, ajudou muito, mas o próprio livro já tem 20 anos. Daí “Taí! Carmen Miranda”?
Sim, “Carmen Uma biografia”, de Ruy Castro, foi fundamental para trazer à tona detalhes fascinantes sobre a vida e a carreira de Carmen Miranda. No entanto, o livro já tem 20 anos, e sentimos que é necessário continuar esse trabalho de resgate e difusão da sua trajetória para as novas gerações. O projeto “Taí, Carmen Miranda por Sônia Andrade” surge justamente com esse propósito: reviver e atualizar a história e a arte dessa grande artista, não apenas resgatando seus sucessos, mas trazendo sua importância cultural para o presente. Nossa proposta vai além de uma homenagem musical; é um espetáculo que mistura performance, música e história, com o objetivo de mostrar ao público o impacto de Carmen na construção da identidade musical brasileira.
Por que o apelido de Carmen era “Pequena Notável”?
Devido sua estatura baixa, porém, ao mesmo tempo, tinha uma presença cativante e talento gigantesco. Apesar de ser pequena em altura, ela compensava com uma energia inesgotável no palco, uma voz marcante. Seu carisma, suas interpretações expressivas e sua capacidade de encantar plateias a tornaram uma figura inconfundível. Esse apelido, que surgiu no Brasil, acompanhou Carmen ao longo de sua carreira internacional, reforçando sua imagem como uma artista grandiosa em todos os sentidos.
Qual foi seu legado e o que ficou dela no século 21?
O legado de Carmen Miranda é imenso, principalmente na música brasileira e na imagem do Brasil no exterior. Ela foi pioneira ao levar o samba e a cultura brasileira para o mundo, quebrando barreiras e abrindo portas para outras artistas. No século 21, Carmen segue sendo referência pela sua música, pelo estilo único e pela forma como se reinventou. Sua influência é vista em artistas que a homenageiam e continuam a celebrar sua importância na cultura popular brasileira.
Ela ainda é vista como algo folclórico e exótico?
Carmen Miranda, por muito tempo, foi vista como um símbolo folclórico e exótico devido à sua imagem vibrante e seu estilo único, especialmente nos filmes e apresentações. No entanto, com o passar dos anos, essa percepção evoluiu. Hoje, ela é reconhecida como um ícone cultural, cujas contribuições para a música e para a construção da identidade brasileira são profundas e atemporais. A sua imagem, embora inicialmente estigmatizada, tornou-se um símbolo de resistência, talento e inovação.
Como foi a turnê de “Taí! Carmen Miranda”?
Foi uma jornada única, que percorreu cidades emblemáticas de Minas Gerais como Contagem, Itabirito, Conselheiro Lafaiete, Conceição do Mato Dentro, Divinópolis, Belo Horizonte e Brumadinho. Em cada uma dessas cidades, levei o espetáculo que resgata a grandiosidade de Carmen Miranda, celebrando seus maiores sucessos e a riqueza cultural que ela representa. Foi uma experiência inesquecível, tanto para mim quanto para o público, e uma chance de relembrar a importância de Carmen no cenário da música popular brasileira”.
O Brasil de Carmen Miranda ainda existe ou morreu?
Ainda existe, mas em constante transformação. A essência da cultura brasileira, com sua alegria, sua mistura de influências e a celebração das nossas raízes, continua viva. No entanto, o Brasil evoluiu muito desde a época de Carmen, especialmente com o crescimento das mídias digitais e a globalização. O que permanece imutável é a força do samba, da música popular brasileira e da nossa capacidade de se reinventar, algo que Carmen fazia tão bem. Ela foi uma pioneira, e mesmo com as mudanças, o espírito vibrante e acolhedor do Brasil que ela representava ainda está presente em nossa identidade cultural.
As músicas dela envelheceram?
Não! Continuam a cativar pela energia e pelas letras envolventes. Mesmo com o tempo, seu estilo único e a fusão de ritmos brasileiros continuam relevantes, sendo redescobertos por novas gerações. Carmen Miranda tem um legado atemporal que nunca perde seu charme.
Tocar nas rádios é pouco provável. O que deveria ser feito para os brasileiros conhecerem Carmen Miranda?
É essencial resgatar sua obra de forma mais moderna, com apresentações ao vivo, gravações atualizadas e projetos culturais, como o meu show, que revisita seus maiores sucessos. Além disso, integrar sua música a contextos contemporâneos, como filmes, campanhas e plataformas digitais, pode aproximar os mais jovens de sua história e legado. Carmen merece ser lembrada como um símbolo de nossa cultura, e é nosso papel promover isso.
A turnê vai rodar o Brasil?
Não só o Brasil, mas o mundo. Já estamos articulando, inclusive, Portugal. Nosso objetivo é levar o show para além das fronteiras brasileiras, começando por países com forte vínculo cultural com Carmen. Queremos promover uma troca cultural, fazendo com que o legado de Carmen Miranda seja celebrado. Além disso, nosso projeto também tem a pretensão de percorrer o Brasil inteiro, como, por exemplo, o Museu Carmen Miranda, no Rio de Janeiro, um dos locais pretendidos para receber o espetáculo, além de várias outras cidades do país.
Outra homenagem à vista em 2026?
Gosto de desafios, portanto a minha mente está aberta para outras homenagens a outros grandes artistas do nosso país, mas isso é surpresa para 2026. No entanto, uma coisa eu tenho certeza: continuarei investindo firmemente em Carmen Miranda, mantendo seu legado vivo e presente para as futuras gerações.
Conte sobre o seu trabalho também como intérprete de Edith Piaf!
Tenho a honra de homenagear Edith Piaf ao lado do talentoso músico Gustavo Figueiredo, que é responsável pela direção musical e arranjos dessa apresentação. Juntos, buscamos resgatar a essência de Piaf, trazendo suas canções com a mesma intensidade e emoção que marcaram sua trajetória. Para mim, interpretar Piaf é mergulhar em um universo de paixão, dor e superação, algo que me conecta profundamente com a música e com o público.
Há previsão de apresentações, este show continua no seu radar de apresentações?
Sim. É um trabalho pelo qual tenho grande apreço e que, sem dúvida, continuará sendo feito. Sempre que houver uma oportunidade de levar esse espetáculo ao público, estarei pronta para seguir com essa homenagem a uma das maiores intérpretes da música mundial.