Paulo Navarro | Entrevista com Carol Silva
Entrevista com Carol Silva. Foto: Mateus Lustosa
Carol Silva-se
Não interessa se o primeiro videoclipe foi dos Beatles, misturando cinema e música para saciar as insaciáveis fãs. Reza a lenda que o primeiro de todos teria sido, “The little lost child”, de Edward B. Marks e Joe Stern, em 1894. “Milênios” depois, início dos anos 1980, nos Estados Unidos, a MTV exibiu “Video Killed the Radio Star”, da banda The Buggles. No Brasil, a mesma MTV (1990), citada daqui a pouco, por nossa entrevistada, Carol Silva, abriu a programação com Marina Lima cantando “Garota de Ipanema”. Existe também a versão dos mais bairristas, sobre “A Velha a Fiar” (1964) curta-metragem, de Humberto Mauro, que chegou a ser considerado pelos críticos como um dos primeiros videoclipes do mundo. Pouco importa. O importante é que o videoclipe nasceu, cresceu e ficou; veio, viu, foi visto e venceu. Aqui em Minas, uma de suas origens pode ser a UFMG, como lerão. Fato é que, com Carol Silva, ele ganhou status da arte, de “mini cinema”, “mini musical” e um belo dia pariu o “VIDEOCLIPE-SE Festival”. Linda extensão dos primórdios da MTV e até do indefectível Youtube.
E que venha a Inteligência Artificial para ver o que é bom para tosse, luz, câmera e ação. Mil ideias na cabeça, uma câmera ou um celular na mão. No mais, curtam a entrevista de Carol Silva como se fosse a última de 2024, porque é. E com os limões de 2025, desejamos a todas e todos muitas limonadas, caipirinhas ou caipivodkas, com moderação. Ou não? Feliz ano novo, porque 2026 já está chegando.
Carol, você foi além do Cinema, na UFMG ou se especializou em uma de suas mil possibilidades, a animação e as artes digitais?
Sou ávida por conhecimento! Adoro aprender de tudo um pouco. Então ainda durante a graduação em cinema de animação, estudei várias áreas do audiovisual em cursos complementares, como produção, direção de fotografia, direção, áudio e outras áreas. Em 2018 fiz um curso especializado em Produção Executiva do Audiovisual e em 2020 estudei Design Thinking para audiovisual. Essas duas formações me trouxeram uma nova forma de pensar o negócio dentro da indústria criativa do audiovisual.
A tecnologia é aliada da arte? Sempre?
Acredito que a arte é uma expressão que transforma o jeito de imaginar e entender o mundo. O uso da tecnologia na arte não é novidade! Eu me formei em artes digitais há 10 anos, então esse conceito não é de agora. O que a gente precisa entender atualmente são os conceitos de IA, que é sim uma grande aliada da arte, mas que necessita de uma grande discussão sobre autoria.
Qual foi seu primeiro trabalho ao sair da UFMG?
Ainda quando estava estudando na UFMG, já trabalhava. Comecei a atuar no audiovisual no primeiro ano de universidade, produzindo um “programete” de “drag queens” no Youtube. Então, quando saí da UFMG, a produtora “Limonada” já existia e eu já estava bastante envolvida com a produção de vídeos institucionais e documentários.
O que te levou ao videoclipe?
O videoclipe sempre foi uma paixão. Me lembro de quando era criança, assistia aos programas na MTV, daqueles que a gente tinha que ligar pra votar no videoclipe que a gente queria ver. Não tinha ainda muito essa facilidade do Youtube, Internet era discada, só podia usar final de semana… Então foi um caminho muito natural o desejo de produzir videoclipes.
Profissão, diversão e hobby.
É um exercício incrível você pensar uma narrativa auxiliar para uma música e que tem que acontecer em quatro minutos. Isso trabalha muito a nossa capacidade criativa. Inclusive os desafios desse tipo de produção, que muitas vezes não tem recursos e acaba fazendo com que a gente precise expandir a mente e pensar em soluções viáveis para o desejo da narrativa, porque tem que caber no orçamento, nas diárias disponíveis, com a equipe disponível…
O que é o VIDEOCLIPE-SE FESTIVAL?
O VIDEOCLIPE-SE é a realização de um desejo e um sonho que a gente sempre teve na “Limonada”, que é de estar próximo ao universo da música com produções audiovisuais. O festival surgiu depois de sermos contatadas por alguns colegas da música que queriam produzir videoclipes, mas não tinham recursos adequados para essas produções. Produzimos muitos videoclipes independentes, com pouca ou quase nenhuma grana e que foram uma grande escola pra gente! Diante dessa realidade, surgiu essa ideia de criar um festival, que além de ser uma plataforma de difusão de videoclipes, também desse a oportunidade de produção para quem está no corre-corre independente.
Mas antes da “Limonada”, os limões...
A “Limonada”, como uma produtora independente, também enfrenta vários desafios em relação a financiamento de obras audiovisuais. Essa busca pelo fomento para produções autorais, é algo que a gente entende muito bem. Então o “VIDEOCLIPE-SE FESTIVAL” vem como uma iniciativa que está fomentando essa indústria cultural. E a gente ainda tem um terceiro pilar que é a formação e qualificação de profissionais. O festival promove atividades formativas como aulas teóricas e oficinas práticas para quem quer aprender sobre produção de videoclipes. Assim conseguimos unir formação, produção e difusão em uma única iniciativa que é o festival.
Como foi o festival em 2024, no Cine Humberto Mauro?
Que experiência incrível levar os videoclipes pra tela de cinema, ainda mais com casa cheia e sessão esgotada! A gente contou com os participantes da mostra, os amigos, as famílias, os profissionais da música, as equipes… foi incrível! Audiovisual é extremamente coletivo e só é feito para que as pessoas assistam, então conseguir um espaço como o Cine Humberto Mauro, um lugar que é tão importante pra cidade, com certeza é um marco importante do “VIDEOCLIPE-SE”!
Qual a força e o diferencial dele?
O “VIDEOCLIPE-SE” além de ser uma iniciativa de produção de videoclipes, também acaba se tornando uma plataforma de difusão dessas obras, que hoje circulam basicamente na Internet. Celebrar o videoclipe é acreditar que esse produto tem força para além do entretenimento, mas também como consolidação e visibilidade de artistas e equipes audiovisuais!
O que quer dizer o bonito nome, “Limonada Content House”?
Somos uma casa produtora de conteúdos audiovisuais. Desde vídeos para marcas e empresas, passando por videoclipes, programas de TV, documentários e web, longas e curtas metragens e até festivais! O nome “Content House” vem do inglês, que significa casa produtora de conteúdo.
Muitos prêmios?
Na trajetória da “Limonada” a gente já acumula prêmios por obras específicas e também prêmios de trajetória cultural! Já são mais de 12 anos nesse mercado!
Tem um tema preferido, uma vocação específica ou quem manda é a inspiração?
Toda empresa traça estratégias! No nosso caso, a estratégia é aliada da inspiração. A gente sempre quer colocar pra frente os nossos desejos, que geralmente são sobre contar histórias diversas, com inclusão e reflexões necessárias para gerar mudanças! Quando isso acontece com estratégias e foco na audiência, conseguimos ter projetos fortes e desejados pelo público!
E 2025? Já te inspira?
Para 2025 temos grandes projetos em execução! São dois longas metragens, um telefilme e uma série de ficção, além da próxima edição do “VIDEOCLIPE-SE”, que já está se tornando uma espécie de referência nessa área cultural. Será um ano de muito trabalho e também de grandes feitos para a “Limonada”! Que venha 2025!