Sábado, 13 de janeiro de 2024

Chega de saudade, Cira Carvalho. Foto: Edy Fernandes

Recordar é reviver

Hoje vamos pegar, não o boi, mas o bonde. Melhor, pular de um bonde chamado desejo ou “Para o bonde que eu quero voltar”. Texto bom e, “para variar”, anônimo, circulando pelas redes. Vamos lá! Nos Anos 60/70, as agências bancárias funcionavam até 18h. Cinema era sempre às duas, quatro, seis, oito e dez. Novelas também. Teatro era de terça a domingo. E passava até na TV.

Viver é memória

Com certeza o autor deste texto é um ou uma carioca porque fala muito do Rio de Janeiro. Então retiramos as referências de lá. Condução era trem, bonde, ônibus ou lotação. Todo telefone era preto. A gente tinha sempre uma ficha no bolso para falar no telefone público. Tinha telefone público! A gente tinha medo de telefone vermelho, de bomba atômica e de areia movediça.

Basta de saudade, Ligia Jardim. Foto: Edy Fernandes

Memória é história

Baleira de cinema vendia Mentex, bala Toffee e dropes Dulcora. Para estar na moda, calça jeans desbotada e boca-de-sino, camiseta manchada e sandália com sola de pneu. Tênis era Bamba ou Conga. Quem ia à Bahia voltava com um berimbau, quem ia a Buenos Aires, um frasco de colônia Lancaster e bronzeador Rayto de Sol, de Nova York, jeans Lee ou Levi’s.

História é saudade

Quem ia Machu Picchu às vezes não voltava. Existiam poucos canais de televisão e muito mais para se ver do que nos cento e tantos de hoje na TV a cabo. Tinha filme que era proibido para menores de 21 anos. Os elevadores tinham porta pantográfica. Não existia porteiro eletrônico (todo mundo jogava a chave da janela ou tinha uma cestinha com barbante, como elevador).

Saudade dói

Ouvia-se jogo de futebol em radinho de pilha. Usávamos óleo de bronzear. Toda criança andava de bicicleta e trocava tampinhas de Coca-Cola por miniaturas da Disney. As tampinhas eram chamadas de chapinhas. Guardávamos palitos de picolé para concorrer a prêmios. Colecionávamos álbum de figurinhas.

Saudade vibra

O festival de Woodstock nos apresentou às grandes bandas de rock. Não tinha restaurante japonês, nem comida indiana, nem pizza fininha. Quem estava na moda usava camisa Banlon, Company ou Petit Ballet e mocassim feito sob medida.

Saudade corre

Família disfuncional era chamada de desajustada. Um estilo diferenciado era um diferente. Era mais simples. Táxi era um Fusca sem o banco do carona. A gente entrava em ônibus pela porta de trás. Carros de luxo eram o Alfa Romeo, o Aero Wyllis e o Simca Chambord. 

Corre e volta

Biscoito era vendido a granel. As mercearias inovavam entregando compras em casa. Padeiro passava de bicicleta. Tinha salão de barbeiro em cada quarteirão. Uma floricultura a cada dois quarteirões. Uma quitanda a cada três. O Ronald Golias, vestido de Bartolomeu Guimarães, dizia só “o gancho” e a gente ria. O Chico Anysio dizia “lá vai o Caravelle” toda semana e a gente sempre ria.

Volta e renasce

Tinha acampamento em barracas individuais. Tinha sanduíche de queijo com banana, tinha pizza brotinho e vaca preta era a mistura de sorvete de creme com Coca-Cola. Quase todo mundo tocava violão, ou pelo menos achava que tocava. Surge o movimento hippie, defendendo o amor livre e a não violência.

Xô saudade, Rosália Dayrell. Foto: Edy Fernandes

Lança Perfume

*O lema "Paz e Amor" sintetizava bem a postura política dos hippies, que constituíram um movimento por direitos civis, igualdade e antimilitarismo.

Tinha Varig, VASP e Cruzeiro do Sul, mas só os ricos viajavam de avião.

Tinha cinema em drive-in. Playboys davam cavalo de pau nas curvas ou retas.

Tinha caneta tinteiro Parker 51 e tinta azul lavável.

Tinha compasso, apontador de lápis, esquadro e régua de cálculo.

Tinha piquenique, patinação do gelo e aula de canto orfeônico.

Íamos ao estádio assistir a jogos de qualquer time, mesmo sem torcer e de geral. Era certeza de ver bom futebol.

Tinha o FIC - Festival Internacional da Canção e os festivais, de onde surgiram quase todos os grandes da MPB.

E tinha o mais importante, muito amor, muita paz, muito carinho e muita amizade!