Paulo Navarro | Entrevista com José Herculano


Entrevista com José Herculano “Ticula” Amâncio. Fotos: Guto Muniz

A Música dos Anjos

O maestro José Herculano Amâncio, o “Ticula”, é chique demais, elegante demais, culto de mais, original demais, mineiro demais. Também, pudera! José Herculano está à frente de um tesouro único no Brasil, tesouro que só poderia ser, entre tantos outros, mineiro. Tudo consequência da época colonial, tudo fruto da riqueza que gera arte, cultura e bom gosto. No caso, a Música Colonial Mineira e seus mestres, como Lobo de Mesquita. Sob sua batuta, o “Coral Cidade dos Profetas” que desenvolve, há mais de 35 anos, o pioneiro trabalho de proteção deste patrimônio imaterial do Brasil.

Mas afinal, porque uma música tão rara, rica, especial e sem igual? E melhor! Mais completo que o coral, nós temos o “Plano Anual Coral Cidade dos Profetas 2024”, usina de atividades artísticas e de ensino. Bom, para saber mais sobre o coral, suas atividades, a “Associação Cultural Canto Livre”, o público inteligente, cada vez mais exigente e até mesmo sobre a nova identidade visual; para apreciar mais, uma dica, coloquem um dos três CDs gravados pelo coral, como, “Mestres do Colonial Mineiro” e ótima leitura.

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Herculano rima com outro maestro, Solano? Ele foi uma inspiração?

Só mesmo a rima. O grande maestro é o compositor Juan Solano Pedrero, espanhol. Eu sou, basicamente, um apaixonado pela música. Herança de família. Meus avós paternos e maternos, todos liam música fluentemente. Nasci e cresci nesse meio, em São Brás do Suaçuí, no interior de Minas Gerais.

Defina o “Coral Cidade dos Profetas”.

Um grupo de apaixonados pela música antiga que estuda, divulga e se emociona com o repertório setecentista mineiro, também conhecido como Música Colonial Mineira. Especializado na interpretação de composições sacras antigas e com três CDs gravados – “Missa em Fá de Lobo de Mesquita”, “Mestres do Colonial Mineiro” e “CD em Louvor à Virgem Maria”.

Estrela da Semana Santa?

Não só. Ao longo da trajetória, participa dos eventos mais significativos de Minas como Semanas Santas, Festivais de Inverno; Festivais e Encontros de Corais Nacionais e Internacionais. Mantido pela Associação Cultural Canto Livre, o grupo oferece além de temporadas de recitais e concertos, gratuitamente, por meio da Associação, formação musical para pessoas de 10 a 90 anos, sendo reconhecido como uma das mais belas manifestações culturais do interior de Minas.

Vocês iniciaram série de concertos, digamos, no mínimo, pitoresca, concorda?

Sim! É uma série dedicada a divulgar a música antiga em cidades históricas de Minas onde tudo teve origem e com poucas oportunidades de ouvir este repertório. Iniciamos com um concerto dentro da Semana das Dores com um tema que é a Paixão de Cristo. Foi um espetáculo cênico musical emocionante, com coro, orquestra e atores, encenando a Paixão dentro da Basílica do Bom Jesus, em Congonhas, monumento “Patrimônio da Humanidade”, pela UNESCO.

Mas não só.

A série continua em outros municípios trazendo uma seleção especial de composições da Música Colonial Mineira. Parte delas pertence ao acervo de Francisco Solano Aniceto, mais conhecido como maestro Chico Aniceto, e são consideradas inéditas por não terem registro de execução.


Qual a proposta do “Plano Anual Coral Cidade dos Profetas 2024”?

O “Plano Anual Coral Cidade dos Profetas 2024” é um projeto formativo e de difusão cultural que, nesta edição, propõe uma série de atividades artísticas e de ensino realizadas em cinco cidades mineiras: Belo Horizonte, Congonhas, Itabirito, Mariana e Ouro Preto. O projeto é aprovado pela Lei Rouanet do Ministério da Cultura, conta com patrocínio master do Instituto Cultural Vale, patrocínio da CSN e apoio da Prefeitura Municipal de Congonhas e da Reitoria da Basílica do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Além dos concertos, prevê também a formação musical para pessoas a partir de 10 anos, gratuitamente, em série de oficinas e aulas de musicalização.

Por que Belo Horizonte, Congonhas, Itabirito, Mariana e Ouro Preto? Por enquanto? Cabe mais?

Sempre cabe mais! E queremos mais. No ano passado, nos apresentamos em Congonhas, que é a nossa casa, Brumadinho e Itabira. Agora, vamos apresentar esse repertório em outras cidades mineiras, onde ele é inédito e que, no passado, tiveram alguma relação com esta musicalidade. Nossa intenção é levar esse cancioneiro erudito tão importante ao maior número de pessoas.

Os “cenários” também são originais?

A proposta é sempre apresentar os concertos em igrejas dos Séculos 18 e 19. Ali nasceu essa música, estilos e características. Já Belo Horizonte foi escolhida porque é o grande centro onde estão concentrados os expoentes culturais, Coral Lírico e Orquestra Sinfônica do Palácio das Artes, a Filarmônica e tantos outros grupos artísticos eruditos e populares. E por ser a capital do nosso Estado. É importante mostrar essa arte para esse grande público.

É rica e bem preservada a música colonial sacra de Minas? Ela é única no Brasil?

Muito rica e única. Alguns acervos estão bem preservados, o grande percentual foi criado aqui em Minas Gerais. Com menos intensidade em outros estados, como Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Graças às parcerias com instituições como a Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade do Estado de Minas Gerais, temos acesso a este repertório em primeira mão. Sobretudo das composições produzidas aqui em Minas, onde este movimento cultural ocorreu com mais intensidade, porque era onde tínhamos as grandes jazidas de pedras preciosas e, devido a isso, o dinheiro que movia tudo.

Quem é o seu público?

Bem diversificado. Nas igrejas temos desde crianças até as pessoas mais idosas. Quando levamos oficinas às escolas, as crianças e adolescentes ficam interessadas com a história da música e isso gera uma grande admiração em saber que aqui, bem próximo, aconteceu todo esse movimento artístico e sacro.

O coral também é escola?

Sim, por meio da “Associação Cultural Canto Livre”; instituição mantenedora do Coral, nós oferecemos, gratuitamente, formação musical para pessoas de 10 a 90 anos. Trabalhamos sempre com formação de novos cantores, aulas de percepção, história da música e técnica vocal. E o que é melhor: no interior de Minas, num processo de democratização do acesso a este patrimônio imaterial sem precedentes do Brasil.

Quem é Fernanda Monte Mor?

Dentro das ações do “Plano Anual 2024 do Coral Cidade dos Profetas”, sempre buscamos criar uma identidade visual capaz de sintetizar nossos objetivos e a grandeza do nosso trabalho. A Fernanda Monte Mor é a designer responsável, já há muito tempo, por esse belo trabalho e desafio. No caso da identidade criada para ilustrar nossas atividades deste ano, ela buscou inspiração em dois elementos fundamentais da obra de Aleijadinho, mestre que idealizou os Profetas, inspiração de nosso nome.

Qual o resultado?

A paleta cromática e as sobreposições de elementos, recursos amplamente utilizados por Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, em sua obra plástica. Em Congonhas, terra natal do Coral, o escultor fez as peças consideradas a expressão máxima do Barroco Mineiro, entre 1794 a 1804, no adro do Santuário do Bom Jesus de Matosinhos.

Uma nova identidade visual rima e faz coro com cores, formas e a Música Colonial Sacra?

Sim, esses elementos estão em equilíbrio e é isso que busca a nossa identidade, harmonizar as cores retiradas da paleta presente na obra do Aleijadinho, com formas e com o que é mais precioso ao Coral Cidade dos Profetas, que é a promoção da Música Colonial. Além da identificação das cores, a nova identidade visual faz referência à bandeira de Minas Gerais, com seu triângulo simbolizando o encontro entre o sagrado, a Santíssima Trindade e a racionalidade.

Inspiração não faltou…

A designer utilizou os suportes RGB para realçar a paleta de cores, compreendendo que Minas vibra e que suas cores refletem essa vivacidade. Assim fez Aleijadinho dialogar com o contemporâneo, assim como o Coral Cidade dos Profetas, que apresenta este repertório ao mundo atual. Todo este trabalho

Pode ser conferido também em nossas redes sociais: Instagram @coralcidadedosprofetas e no Youtube Coral Cidade dos Profetas Oficial.